Antes de iniciarmos a discussão sobre a integração de tecnologias ao currículo é de fundamental importância definir o que se entende por currículo e como ele é dividido.
O termo currículo dentro de uma perspectiva conservadora é definido como o conjunto de matérias ou disciplinas escolares; como o conjunto de experiências desenvolvidas na escola ou mesmo como seleção de conhecimentos a serem transmitidos e assimilados pelos alunos. Nessas concepções todos os indivíduos são considerados iguais ou, pelo menos, tratados da mesma forma, tendo os mesmos conhecimentos a serem incorporados. Não consideram as diferenças, e a escola se propõe a igualar indivíduos desiguais.
É interessante também lembrar que o currículo escolar está dividido em duas partes: a primeira é a que se denomina de Currículo Formal, o que leva em consideração somente os aspectos estruturais do currículo, como a divisão das disciplinas, a carga horária dos professores, as normas relativas à instituição de educação ou as atribuições dos cargos técnicos exercidos por cada funcionário da escola; e a segunda é a que se prefere chamar de Currículo em Construção, aquele que aproveita a experiência prévia de vida dos alunos e transforma-a em objeto de manipulação para a produção do conhecimento. Existe também o Currículo Oculto que é constituído por todos aqueles aspectos que , sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem de forma explícita, para aprendizagens sociais relevantes, como por exemplo: todas as atitudes, os comportamentos e os valores que permeiam a vida dos alunos como forma de enquadrá-los às estruturas da sociedade capitalista que detém o poder político educacional e que exige que sua cultura seja transmitida nas escolas na tentativa da legitimação de seu poder opressivo.
O currículo está diretamente relacionado às metas e intenções da escola, de seus educadores e alunos. Os conteúdos são considerados como um meio para a formação de cidadãos críticos, autônomos e atuantes, o que ultrapassa uma simples listagem de conceitos. Em tal posição, a escola é alicerçada no direito de todos os cidadãos desfrutarem uma formação básica comum e de respeito aos seus valores culturais. Nessa perspectiva, é possível afirmar que o currículo engloba valores, atitudes e procedimentos além de abranger questões referentes ao “quê”, “para quê” e “como” ensinar, articuladas ao “para quem”. Currículo e conhecimento estão, portanto, indissociados, já que refletem o processo pelo qual o indivíduo adquire, assimila e constrói conhecimentos num determinado conjunto de experiências proporcionadas pelo contexto educativo.
Alicerçados nesta definição e analisando o planejamento produzido pelo grupo, podemos afirmar que os conteúdos relacionados à área de artes e ciências estão sim contemplados no currículo formal, mas os conteúdos e objetivos ligados a área de tecnologias não fazem parte do currículo, pois são utilizados como recursos para alcance de objetivos de outras áreas e não vistos como fonte de aprendizado tecnológico.
No planejamento elaborado pelo grupo especificamos o objetivo de promover a interação das crianças com os computadores e internet. Com a realização das propostas percebemos que foram construídos e colocados “ em cheque” muitos outros conceitos, procedimentos e atitudes não previstas anteriormente. Assim refletimos sobre a afirmação da professora Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, coordenadora e docente do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), quando afirma em entrevista a Nova Escola que:
“A tecnologia não é um enfeite e o professor precisa compreender em quais situações ela efetivamente ajuda no aprendizado dos alunos. "Sempre pergunto aos que usam a tecnologia em alguma atividade: qual foi a contribuição? O que não poderia ser feito sem a tecnologia? Se ele não consegue identificar claramente, significa que não houve um ganho efetivo”.
As aprendizagens relacionadas ao uso de tecnologias não constituem o currículo formal, observamos que várias discussões são construídas em torno desse fato. Partindo da definição acima descrita sobre o que é currículo percebemos que ele deve está presente no currículo formal, pois está presente na vida dos alunos, trata-se de um elemento social palpável e evolutivo. Mas nos perguntamos como seria esta inserção? O uso das Tic’s seriam um eixo que perpassaria pelo trabalho com todas as disciplinas? Qual o papel das tecnologias educativas nas práticas curriculares e, até que ponto, se tornam importantes na mudança substancial dessas práticas educativas? Vista a necessidade de uma reforma, onde ela deve ocorrer ao nível dos conteúdos curriculares? Será que exercitamos nosso pensamento crítico no que diz respeito à integração das tecnologias no ensino, considerando que produz uma série de efeitos negativos nas crianças, tornando-as pessoas afastadas da natureza, da família, dos amigos, fazendo delas crianças pouco sociáveis? Como os professores seriam incluídos nesse processo?
Avaliando vários pontos de vista, percebemos que o mais importante é que, como educadores se intensifique as nossas apreciações críticas ao nível do impacto que as tecnologias possam apresentar na aprendizagem, estando sempre conscientes de que as tecnologias apresentam benefícios e malefícios para a educação, o importante é estarmos atentos e preparados para contornar os efeitos negativos e valorizar o uso sensato da tecnologia de modo a tirar contrapartidas da sua utilização, questionando-nos sempre sobre qual o papel que a tecnologia deve desempenhar nas nossas vidas.
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